O Bioquímico empreendedor: o caso CellSeq

por | out 29, 2014

A Mariana Boroni, Bioquímica pela UFV, turma de 2004, doutora em Bioinformática pela UFMG, recentemente abriu sua própria empresa de biotecnologia em Belo Horizonte, a CellSeq. A empresa também tem como sócia outra bioquímica formada pela UFV, da mesma turma, Carolina Reis.
- (Bioquímica Brasil) Mariana, você poderia nos contar um pouco mais sobre sua trajetória científica? Que estágios de iniciação científica você fez, o mestrado e o doutorado?
(Mariana) Comecei minha graduação em 2004 na Universidade Federal de Viçosa. Como eu sempre me interessei muito por biologia molecular e genética, tentei desenvolver habilidades relacionadas à genômica funcional durante minha formação científica. Durante uma greve em 2005 comecei meu primeiro estágio como estudante voluntário de iniciação científica no Laboratório do Câncer – DBG sob a orientação do Prof Marcelo Vilela (in memorian). Em 2007 dei início a outro estágio já como bolsista do programa PIBIC/CNPq durante 1 ano no Laboratório de Proteômica e Bioquímica de Proteínas sob a supervisão da Profa Maria Cristina Baracat. Em seguida iniciei o mestrado em Bioquímica Agrícola na UFV no mesmo laboratório, com duração de 2 anos. O tema da dissertação foi Proteômica e Peptidômica em Plantas. Ao final do mestrado tive muito contato com a bioinformática envolvendo métodos computacionais de identificação de proteínas, o que me despertou o interesse para essa área. Dessa forma, em agosto de 2010 dei início ao doutorado em Bioinformática na Universidade Federal de Minas Gerais, sob a orientação da Prof. Glória Franco. O trabalho de tese envolveu a análise de transcritos processados por spliced leader trans-splicing utilizando a técnica de RNA-Seq.
- Poderia nos contar um pouco mais sobre a empresa do qual é sócia?
A CellSeq - In vitro and In silico solutions é uma empresa que fornece soluções inovadoras, possibilitando a realização de análises mais assertivas com objetivo de atender à crescente demanda por testes in vitro para desenvolvimento de novos produtos e que visam substituir ou reduzir a experimentação animal. Atua também oferecendo soluções in silico através de análises bioinformáticas, que geram informações relevantes a partir da quantidade massiva de dados gerados por sequenciamento de nova geração.
A empresa foi criada pelas doutorandas Mariana Boroni, Carolina Reis (também Bioquímica, graduada pela UFV) e Juliana Lott de Carvalho, em janeiro deste ano, e conta com importantes parceiros como a empresa de biotecnologia Myleus, o CEBio (Centro de Excelência de Bioinformática) e a UFMG.
As inovações in vitro se constituem na produção de diferentes tipos de células humanas a partir de células-tronco, que serão utilizadas em ensaios de novos produtos, como cosméticos, por exemplo, permitindo a redução de testes realizados em animais e, consequentemente, de custos. A estimativa é que o custo na cadeia de produção de um novo medicamento caia entre 50 a 60% com a disseminação das inovações.
Já as inovações in silico estão sendo desenvolvidas para atender às demandas por análises bioinformáticas de dados gerados por sequenciamento de DNA de nova geração, uma tecnologia que permite o sequenciamento rápido e a um preço acessível. As informações genéticas provenientes dessas análises são ferramentas de alto poder para a identificação de novas mutações de interesse clínico e para o aconselhamento genético de pacientes.
Atualmente, os cardiomiócitos (células do coração), produzidos a partir da diferenciação de células-tronco, são nosso carro chefe dentre as soluções in vitro. Em relação às soluções in silico, as análises de genoma, exoma e RNA-Seq são as mais procuradas. O impacto dessas soluções pode auxiliar tanto empresas que desejam reduzir a experimentação animal e produzir dados mais confiáveis, bem como abre precedentes para uma medicina personalizada e de maior alcance à população.
- Como você aplica os conhecimentos da Bioquímica na empresa?
Os conhecimentos em Bioquímica são aplicados tanto na diferenciação das células tronco em diferentes tipos celulares, assim como nos diversos tipos de testes de toxicidade que podem ser desenvolvidos utilizando-se nossas células, como análise de produção de espécies reativas de oxigênio. No campo de bioinformática, o conhecimento em bioquímica é fundamental para identificar vias metabólicas diferencialmente reguladas em determinado processo e ainda na identificação de doenças mendelianas raras, relacionadas a alguma mutação que, por exemplo, leve à troca de um aminoácido importante na proteína, causando prejuízo ao ser humano.
- Mariana, sabemos que você participou da Tecnomol, Empresa Júnior da Bioquímica UFV, o quanto ela influenciou em sua carreira e na sua decisão de abrir uma empresa de biotecnologia?
Em 2005, durante a graduação em Bioquímica, percebi a carência de empresas em Viçosa que pudessem ofertar oportunidades de estágio a estudantes de graduação em Bioquímica. Dessa forma, surgiu a idéia de formar uma empresa júnior de bioquímica, onde os alunos poderiam desenvolver habilidades empreendedoras e vivenciar o ambiente de uma empresa. Dessa forma, juntamente com outros colegas de curso, participei da elaboração do estatuto e regimento interno da empresa durante a sua fundação. Após a concretização do nosso sonho, atuei na TECNOMOL – Empresa Júnior de Bioquímica como diretora administrativa financeira de fevereiro a outubro de 2006 e conselheira fiscal da empresa de novembro de 2006 a abril de 2008. Dentre minhas principais responsabilidades durante esse período destacam-se a consolidação de parcerias, viabilização de projetos, administração contábil, jurídica e financeira da empresa, planejamento financeiro, controle de caixa, acompanhamento do desempenho financeiro da empresa e emissão de pareceres sobre o uso e emprego dos recursos da empresa. A atuação na TECNOMOL foi fundamental para que o sonho de empreender torna-se realidade, uma vez que, dentro da empresa júnior, tive a oportunidade de vivenciar de perto o cotidiano de uma empresa. A partir daí, abrir a empresa foi só questão de tempo e oportunidade.
- Quais são as principais dificuldades para um bioquímico construir sua própria empresa nos dias de hoje?
A principal dificuldade na minha opinião é que, infelizmente, a cultura empreendedora não está disseminada no ambiente acadêmico no qual o bioquímico está inserido. Muitas vezes não tomamos conhecimento das inúmeras oportunidades de mercado que existem por aí, principalmente pelo fato de não vivermos em um ambiente mais favorável à transformação de novas ideias em negócios. O conhecimento que é construído dentro das universidades raríssimas vezes é explorado como potencial de negócio. A Universidade Federal de Viçosa é uma das poucas exceções, uma vez que esta visa disseminar a cultura empreendedora dentro e fora da academia através de movimentos como o Movimento Empresa Júnior (MEJ), apoia um grande número de empresas juniores, e ainda, possui um grande parque tecnológico que apoia empreendimentos de base tecnológica para a capitalização do conhecimento científico.
- Você pensa que alguma alteração na grade de disciplinas poderia favorecer a atuação do Bioquímico na área do bio-empreendedorismo?
A grade disciplinar de bioquímica é muito rica e possibilita a formação de um profissional muito competente e diversificado. Entretanto, a grade é muito voltada para a atuação acadêmica. Disciplinas que visem disseminar e explorar a cultura empreendedora em qualquer curso são muito bem vindas, inclusive no Bacharelado em Bioquímica.
- Com relação a sua experiência, que conselho daria aos futuros Bioquímicos?
Meu conselho é simples: fazer o que você gosta. Colocar esforços em algo que você acredita, aliando os seus conhecimento e habilidades, é algo que é muito prazeroso e motivador, seja na vida acadêmica ou em um ambiente empreendedor.

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Bioquímica Brasil

O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

bioquimicabr@gmail.com

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